Não podemos deixar cair ”A Comarca de Arganil”. Neste espaço, os leitores do pré-extinto jornal têm a palavra. Vamos dizer o que queremos para o novo rosto d’A Comarca, Vamo-nos unir com um único propósito: reeditar o jornal. Assuma a palavra
14 de Novembro de 2009

Texto publicado no jornal "A Comarca de Arganil"

Por: Teodoro A. Mendes
Em: 2008-09-02

Mudaste o aspecto e a tua presença. Mas não mudaste a identidade – o mais importante - e o tempo, porque, enquanto a primeira continua a ser a tua carta de apresentação às gentes que te querem bem, a segunda é o marco a balizar o teu caminho, uma lonjura que já vai em 108 anos.

Chegas, agora, uma vez por semana – mas continuas a ser bem recebida! – graças ao esforço dos que continuam a acreditar naquela alavanca que tu és e de que falaste no “Programa” que encheu a tua 1ª página no dia 1 de Janeiro de 1901.

Parabéns pela tua luta, que é bem o espelho de todos os teus ilustres timoneiros, desde os teus ilustres fundadores Eugénio Moreira e A. José Rodrigues, que viram longe o teu futuro, e todos os que, até agora, têm sido fiéis à ideia do principio, a quem presto a minha viva homenagem.

Todos eles em conjunto com uma plêiade de homens, que mais directamente ao longo de tantos anos te têm impresso e daqueles milhares de colaboradores que te escrevem, todos têm sido os cabouqueiros atentos às vicissitudes do tempo que te têm marcado o caminho.

Não desesperes por chegares agora, uma só vez por semana. Lembra-te, que no começo já foi assim. Saías aos sábados para que aos Domingos houvesse tempo para ti.

Percorreste um longo caminho e reencontraste agora, o caminho inicial.

Que bom, não é?

Pensa como é uma felicidade não ter perdido o princípio.

O reencontro é sempre um sinal de vida, porque quem sabe, se vai ser daqui que vais voltar a sonhar com outro destino?

O importante é estar.

Pensa no que tens feito, a começar pela tua vitória contra os coveiros da Imprensa Regional que desde o ano de 2001, quando o Governo de então, anunciou o fim da comparticipação a 100 por cento para “moralizar o sector”, e tu, galhardamente, desrespeitada mas firme apesar de velhinha de tantos anos e de tantos percalços, continuaste a fazer pela vida, porque sabias – ao contrário deles – como eras importante, embora continuasses a manter aquele ar de jornal humilde, que quer continuar como a pedir desculpa aos poderosos de ainda teimar em viver.

Continua assim. Eles passam e tu vais ficar.

Vais ficar, por todos os que te querem bem, onde eu — teu respeitoso colaborador — me incluo desde os tempos antigos em que me tornei admirador das tuas páginas.

Era, então, um jovem.

Com aquele ar de quem já se julgava gente, um dia – onde isto já vai! - tive um sonho: escrever para ti.

E assim aconteceu.

Estávamos na década de setenta do século passado. Já lá vão muitos anos.

Mas não esqueço.

Guardo a tua primeira carta, mandada por esse Homem bom que era ao tempo teu Director. Chamava-se João Castanheira Nunes. Escreva... escreva – disse-me ele – e eu embalado pelo seu sorriso afável, num certo dia em que o visitei, escrevi – e continuo a escrever - nem sempre, certamente, com o acerto que tu mereces.

Depois dele, guardo cartas amáveis de outros teus timoneiros e muitos telefonemas, onde falámos da tua vida, ou melhor, das nossas vidas, que num dado passo, a minha própria vida passou a confundir-se com a tua.

Razão suficiente para eu me ter ido alarmando, ao longo do tempo com a asfixia de que foste sofrendo, pois da vida estuante dos três números semanais – que belos tempos! – passaste a dois e., agora, a um.

Ou seja, reduziram-te à expressão mais simples.

Mas deixa lá.

O reencontro com o passado tem de ser entendido como uma felicidade.

Vais continuar a viver. É uma fé que eu tenho.

Eles, os tais, que não te têm amado – como merecias – esquecem-se que a imprensa regional, a que alguns chamam e com verdade, imprensa de proximidade é, nos tempos que correm, seguramente, o único veículo que faz frente à TV, à Rádio e à NET, pois ainda consegue alguma penetração num público fiel de leitores.

Restrito, é certo, mas interessado no meio das suas origens.

É lamentável que o actual Governo que temos – e todos os demais – também não tenham querido saber disto, que não deixa de ser uma acção concertada de desprezo pelo interior do País, esvaziando-o de gentes e, logo de estruturas, como tem acontecido.

Tu és uma dessas estruturas... das tais que querem deitar abaixo.

Por motivos que nos escapam – há quem diga que é por eleitoralismo – eles têm preferido gastar milhões de subsídios com a chamada grande informação, especialmente a TV do Estado, sem cuidar que tu – e já agora, outras como tu – deviam ser estimuladas como agentes de promoção da leitura e do gosto pelos jornais.

Mas não.

Até parece de propósito.

Retiram-te a possibilidade de chegares a potenciais leitores, indo ao ponto de se esquecerem dos que foram para o estrangeiro – ao alterarem o “porte pago”, que era um modo de contribuição que te permitia respirar.

Porquê?

Não sei. Mas havemos de lhes perguntar, um dia.

Que maldade foi esta? A medida é política ou economicista?

Se é política é irracional, porque os jornais regionais com provas dadas – como tu — deviam ser considerados de interesse público e, como tal, alvo de um tarifário acessível, que possibilitasse a sua expansão.

Se é economicista, é lamentável, por nos parecer que o dinheiro gasto anualmente com o porte pago não é de molde a abanar o Orçamento do Estado.

Mas que queres?

O poder é deles.

E quem manda hoje, não são os princípios.

É a economia que tudo perverte.

Sinais dos tempos enviesados que vivemos, onde perante a prática do fecho de Maternidades, Centros de Saúde, Escolas e outros Serviços, parece, não ter importância o fecho de jornais regionais.

Há uma nova cartilha economicista, minha velha “Comarca”... e, há, por aí, uns certos senhores do mundo e de outros, que o não sendo, também se vergam a esse poder sem rosto e sem vergonha.

Desculpa uma carta tão longa.

Foi sentida, podes crer.»

 

Nota: Esta opinião foi publicada no jornal "A Comarca de Arganil" por este se encontrar activo. Hoje não seria possível porque a publicação do referido jornal está suspensa. Queremos manter esta situação? ttp://laacomarcadearganil.blogs.sapo.pt/404.html

 

 

publicado por anevespedro às 23:56
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